Mostrar mensagens com a etiqueta Poesia. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Poesia. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 31 de agosto de 2018

O Caracol não gosta de sol


O Caracol

O Caracol acordou.
Chegou a cabeça à porta da concha,
pauzinhos meio encolhidos, espreitou.
Dia não era, mas tanta claridade...
Seria a madrugada ou o fim da tarde?

Estendeu mais os pauzinhos,
os quatro que tem muito fininhos.
Nos maiores brilharam os olhos
muito vivos mas pequeninos
[vendo apenas luz e sombra].
Nos outros dois, como dois radares
que não precisam de rodar,
abre-se o olfato par a par.

Bem desperto e muito atento
o Caracol olhou para o chão,
depois para o ar, para o céu.
Era a Lua a passear.
- Muito bem!, disse contente,
Se a Lua anda na rua 
é porque o sol está deitado
Posso ir à vontade!


Excerto de um poema de Marina Algarvia in Histórias nunca lidas..., Lisboa, F.C.G.,VII série, 5, 1991, p. 48-49 (adapt.)

Nota - O que aparece entre parênteses reto e a itálico é da minha responsabilidade. A imagem foi retirada de https://pt.dreamstime.com/imagens-de-stock-desenhos-animados-bonitos-do-caracol-na-folha-image39807054

domingo, 31 de dezembro de 2017

História Antiga ou Poesia no Natal

A mãe do T. tinha-lhe lido o poema de Herodes, o tal das tranças que não gostava de crianças...
O T. gosta muito de histórias, de livros e nota-se que é muito sensível às palavras.
Assim, depois de ter decorado e dito a poesia anterior com os primos, quis a do rei que não gostava de crianças... (aliás, uma das suas perguntas quando chegou no dia em que íamos fazer o presépio era se tínhamos o rei que não gostava de crianças...). Então, decidi apoiá-lo e seleccionei uma parte do poema, a que me pareceu mais acessível. Assim foi. Servi de ponto e o T. lá foi dizendo (repetindo)

Era uma vez, lá na Judeia, um rei.
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabestro
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava, e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.

Só que não ficou satisfeito... faltava dizer "que não gosta de crianças..."
Conclusão... Treinei com ele uma vez - eu dizia e ele repetia - e lá fomos fazer novamente a apresentação ao público. Desta vez, com o poema COM-PLE-TO! Então, depois de repetir a primeira estrofe, continuámos

E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
O malvado
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da Nação.

Mas,
Por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenino
Que  vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher o mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.
Miguel Torga

Andresen, Sophia de Mello Breyner (selecção). (1991). Primeiro Livro de Poesia. (7ª ed.). Lisboa: Caminho, p.77


imagem retirada de http://geopedrados.blogspot.pt/2007/12/natal_22.html

Pus-me a contar as estrelas ou Poemas no Natal




Pus-me a contar as estrelas
com a ponta da minha espada
comecei à meia-noite
e acabei de madrugada

Pus-me a contar as estrelas
com a ponta da bainha
comecei à meia-noite
e acabei de manhãzinha

Pus-me a contar as estrelas
sobre a pedra da coluna
contei: sete, seis e cinco
quatro, três, duas e uma.

Vieira, Alice (1994). Eu bem vi nascer o Sol. Antologia da poesia popular portuguesa. (2ª ed.). Lisboa: Caminho, p. 127.



Este ano, pensei que os netos podiam fazer uma surpresa à família no dia de Natal. Seleccionei um poema simples e, juntamente com o J., o mais velho, decidimos como seria a apresentação. Cada um decorou a sua parte e foi um momento memorável!!!

A primeira estrofe coube ao J.

A segunda, ao T.

A terceira à C. que, no último verso, foi acompanhada pelo J.

E foi vê-los, sem um engano, cada um na sua vez...

E, no final, os exuberantes agradecimentos! O T. então, quase chegava com a cabeça ao chão...



sexta-feira, 31 de março de 2017

DIA MUNDIAL DA POESIA

Foi há dez dias. Mas a poesia é de todos os dias.

Camões. Este ano elejo Camões! 

Verdes são os campos,
De cor do limão:
Assim são os olhos 
Do meu coração

Verts sont les champs,
Couleur citron:
Ainsi sont les yeux
De mon coeur.

Greens are the fields,
De colour of lemons:
So are the eyes
Of my love




Estas traduções foram retiradas da Wikipedia, a grande enciclopédia dos tempos modernos! O saber ao alcance de todos, ao alcance da mão, à distância de um click. Mas não me parece mal. Notemos o pragmatismo da língua inglesa que nos dispensa a interpretação do último verso. É da sua amada que Camões fala. Para quê disfarçar?

Camões, desenho de J., 8 anos
Esta ideia foi despoletada por este extraordinário desenho do J. 
E não é Camões o grande poeta conhecido pelo mundo inteiro? Pois, não dá nome a nenhum aeroporto, não se chama C. R. nem se sabe se alguma vez chutou numa bola (de trapos...)... Algum menino, hoje, sabe o que é uma bola de trapos???

retirado de http://angolainterrogada.blogspot.pt/2010/07/os-donos-da-bola.html

E como não podia deixar de ser, a música de Zeca Afonso a reforçar o lirismo do poema. Os pais dos meus netos aprenderam desde muito cedo esta canção. E os meus netos também. 

Deixo aqui a interpretação do Zeca e uma outra de que também gosto muito, a da Teresa Silva de Carvalho.






quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Sei um ninho...





Sei um ninho.
E o ninho tem um ovo.
E o ovo, redondinho,
Tem lá dentro um passarinho
Novo.

Mas escusam de me atentar
Nem o tiro nem o ensino.
Quero ser um bom menino
E guardar este segredo comigo
E ter depois um amigo
Que faça o pino a voar.


                                                       Miguel Torga 

sábado, 21 de março de 2015

A Nau Catrineta na voz de Fausto

É sempre bom ouvir o Fausto



Dia Mundial da Poesia

Este poema - versão de Almeida Garrett - parece ter sido baseado numa história real ocorrida no século XVI com uma nau portuguesa, que teria sido saqueada por piratas, teria andado à deriva, a sua tripulação quase toda dizimada pela doença e pela fome, mas teria conseguido chegar a terra firme.
Lembro-me de ouvir este poema, desta vez pela voz da minha mãe...
Hoje, Dia Mundial da Poesia, foi da Nau Catrineta que me lembrei.
Lá vem a Nau Catrineta
Que tem muito que contar!
Ouvide agora, senhores,
Uma história de pasmar.
Passava mais de ano e dia
Que iam na volta do mar,
Já não tinham que comer,
Já não tinham que manjar.
Deitaram sola de molho
Para o outro dia jantar;
Mas a sola era tão rija,
Que a não puderam tragar.
Deitaram sortes à ventura
Qual se havia de matar;
Logo foi cair a sorte
No capitão general.
– “Sobe, sobe, marujinho,
Àquele mastro real,
Vê se vês terras de Espanha,
As praias de Portugal!”
– “Não vejo terras de Espanha,
Nem praias de Portugal;
Vejo sete espadas nuas
Que estão para te matar.”
– “Acima, acima, gageiro,
Acima ao tope real!
Olha se enxergas Espanha,
Areias de Portugal!”
– “Alvíssaras, capitão,
Meu capitão general!
Já vejo terras de Espanha,
Areias de Portugal!”
Mais enxergo três meninas,
Debaixo de um laranjal:
Uma sentada a coser,
Outra na roca a fiar,
A mais formosa de todas
Está no meio a chorar.”
– “Todas três são minhas filhas,
Oh! quem mas dera abraçar!
A mais formosa de todas
Contigo a hei-de casar.”
– “A vossa filha não quero,
Que vos custou a criar.”
– “Dar-te-ei tanto dinheiro
Que o não possas contar.”
– “Não quero o vosso dinheiro
Pois vos custou a ganhar.”
– “Dou-te o meu cavalo branco,
Que nunca houve outro igual.”
– “Guardai o vosso cavalo,
Que vos custou a ensinar.”
– “Dar-te-ei a Catrineta,
Para nela navegar.”
– “Não quero a Nau Catrineta,
Que a não sei governar.”
– “Que queres tu, meu gageiro,
Que alvíssaras te hei-de dar?”
– “Capitão, quero a tua alma,
Para comigo a levar!”
– “Renego de ti, demónio,
Que me estavas a tentar!
A minha alma é só de Deus;
O corpo dou eu ao mar.”
Tomou-o um anjo nos braços,
Não no deixou afogar.
Deu um estouro o demónio,
Acalmaram vento e mar;
E à noite a Nau Catrineta
Estava em terra a varar.
(Almeida Garrett, Romanceiro)
retirado de: https://ovelhaperdida.wordpress.com/2008/08/21/para-uma-leitura-da-nau-catrineta-de-garrett/


sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

As fadas de Antero de Quental


Este poema pertence às minhas memórias de infância. Recordo-o na voz do meu Pai, que o dizia tão bem, de maneira tão expressiva!
Ouvi-o, muito antes de saber que era de Antero de Quental.
Ouvir um poema de alguém que o diz de cor é muito diferente do que ouvir ler um poema...

Gosto desta transcrição não adaptada aos posteriores acordos ortográficos do século XX.


As fadas... eu creio n'ellas!
Umas são moças e bellas,
Outras, velhas de pasmar...
Umas vivem nos rochedos,
Outras, pelos arvoredos,
Outras, á beira do mar...
Algumas em fonte fria
Escondem-se, emquanto é dia,
Sáem só ao escurecer...
Outras, debaixo da terra,
Nas grutas verdes da serra,
É que se vão esconder...

O vestir... são taes riquezas,
Que rainhas, nem princezas
Nenhuma assim se vestiu!
Porque as riquezas das fadas
São sabidas, celebradas
Por toda a gente que as viu...

Quando a noite é clara e amena
E a lua vae mais serena,
Qualquer as póde espreitar,
Fazendo roda, occupadas
Em dobar suas meadas
De ouro e de prata, ao luar.

O luar é os seus amores!
Sentadinhas entre as flores
Horas se ficam sem fim,
Cantando suas cantigas,
Fiando suas estrigas,
Em roca de oiro e marfim.

Eu sei os nomes d'algumas:
Viviana ama as espumas
Das ondas nos areaes,
Vive junto ao mar, sósinha,
Mas costuma ser madrinha
Nos baptisados reaes.

Morgana é muito enganosa;
Ás vezes, moça e formosa,
E outras, velha, a rir, a rir...
Ora festiva, ora grave,
E vôa como uma ave,
Se a gente lhe quer bulir.

Que direi de Melusina?
De Titania, a pequenina,
Que dorme sobre um jasmim?
De cem outras, cuja gloria
Enche as paginas da historia
Dos reinos de el-rei Merlin?

Umas tem mando nos áres;
Outras, na terra, nos mares;
E todas trazem na mão
Aquella vara famosa,
A vara maravilhosa,
A varinha do condão.

O que ellas querem, n'um pronto,
Fez-se alli! parece um conto...
Mesmo de fadas... eu sei!
São condões que dão á gente,
Ou dinheiro reluzente
Ou joias, que nem um rei!

A mais pobre creancinha
Se quiz ser sua madrinha,
Uma fada... ai, que feliz!
São palacios, n'um momento...
Belleza, que é um portento...
Riqueza, que nem se diz...

Ou então, prendas, talento,
Sciencia, discernimento,
Graças, chiste, discrição...
Vê-se o pobre innocentinho
Feito um sabio, um adivinho,
Que aos mais sabios vae á mão!

Mas, com tudo isto, as fadas
São muito desconfiadas;
Quem as vê não hade rir.
Querem ellas que as respeitem,
E não gostam que as espreitem,
Nem se lhes hade mentir.

Quem as offende... Cautela!
A mais risonha, a mais bella,
Torna-se logo tão má,
Tão cruel, tão vingativa!
É inimiga aggressiva,
É serpente que alli está!

E têm vinganças terriveis!
Semeiam cousas horriveis,
Que nascem logo no chão...
Linguas de fogo que estalam!
Sapos com azas, que falam!
Um anão preto! um dragão!

Ou deitam sortes na gente...
O nariz faz-se serpente,
A dar pulos, a crescer...
É-se morcego ou veado...
E anda-se assim encantado,
Emquanto a fada quizer!

Por isso quem por estradas
Fôr, de noite, e vir as fadas
Nos altos mirando o céo,
Deve com geito falar-lhes
Muito cortez e tirar-lhes
Até ao chão o chapéo.

Porque a fortuna da gente
Está ás vezes sómente
N'uma palavra que diz;
Por uma palavra, engraça
Uma fada com quem passa,
E torna-o logo feliz.

Quantas vezes, já deitado,
Mas sem somno, inda acordado,
Me ponho a considerar
Que condão eu pediria,
Se uma fada, um bello dia,
Me quizesse a mim fadar...

O que seria? um thesouro?
Um reino? um vestido de ouro?
Ou um leito de marfim?
Ou um palacio encantado,
Com seu lago prateado
E com pavões no jardim?

Ou podia, se eu quizesse,
Pedir tambem que me désse
Um condão, para falar
A lingua dos passarinhos,
Que conversam nos seus ninhos...
Ou então, saber voar!

Oh, se esta noite, sonhando,
Alguma fada, engraçando
Commigo (podia ser!)
Me tocasse da varinha,
E fosse minha madrinha
Mesmo a dormir, sem a vêr...

E que ámanhã acordasse
E me achasse... eu sei? me achasse
Feito um principe, um emir!...
Até já, imaginando,
Se estão meus olhos fechando...
Deixa-me já, já dormir!

Antero de Quental

Poema de Natal


Há muito que procuro um poema de Natal adequado...
Encontrei este poema de Natal que tem a simplicidade que procurava.
É de Vinicius de Moraes

De repente o sol raiou


E o galo cocoricou:


— Cristo nasceu!

O boi, no campo perdido                                  
avonews.blogspot.pt
Presépio (de avonews.blogspot.pt)
Soltou um longo mugido:

— Aonde? Aonde?

Com seu balido tremido
Ligeiro diz o cordeiro:

— Em Belém! Em Belém!

Eis senão quando, num zurro
Se ouve a risada do burro:

— Foi sim que eu estava lá!

E o papagaio que é gira (1)
Pôs-se a falar: — É mentira!

Os bichos de pena, em bando
Reclamaram protestando.

O pombal todo arrulhava:
— Cruz credo! Cruz credo!

Brava
A arara a gritar começa:

— Mentira! Arara. Ora essa!
— Cristo nasceu! canta o galo.
— Aonde? pergunta o boi.
— Num estábulo! — o cavalo
Contente rincha onde foi.

Bale o cordeiro também:

— Em Belém! Mé! Em Belém!

E os bichos todos pegaram
O papagaio caturra
E de raiva lhe aplicaram
Uma grandíssima surra.


Retirado de: http://www.escolakids.com/vinicius-de-moraes.htm

(1) A palavra «gira» é um substantivo que significa «indivíduo amalucado», como se encontra no Dicionário. As coisas que uma avó vai sabendo! Oh Sacrossanta ignorância! O que eu luto contra ela!!!

quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Cancioneiro da Bicharada

Gostei destas canções feitas de bons poemas, uns sobre temas tradicionais, outros nem por isso, mas todos interessantes. Gostei das histórias com aquela dose de impossível que satisfaz a imaginação infantil...
Bem cantadas e bem ditas. Bem ditas, mas podia ser melhor... Bem sei que não é fácil ser uma Germana Tânger! Não consigo esquecer aquele dia em que ouvi esta senhora a dizer o Herodes de António Gedeão. Assisti a uma revelação! Como era possível ainda não a ter descoberto! Quem quer que queira ser uma diseuse tem que ouvir esta voz, esta expressividade, esta pronúncia certa dos sons, este rigor dos ritmos e dos silêncios.
Deixemos Germana Tânger para outro dia. Isto foi só um desvio. Fiquemos com este Cancioneiro, com esta "amostra" retirada do Youtube


quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Fernando Pessoa na voz de José Afonso

Não tenho a certeza, mas creio que este poema entrou na minha vida com a música do Zeca.



O video apresenta um comboio como deve ser, mas eu acho que o comboio de Queluz à Cruz Quebrada, descendente ou ascendente, deveria ser mais deste estilo...

Aldeia de José Franco (Sobreiro de Mafra)

Poesia infantil de Fernando Pessoa? (5)

Este poema, com a entoação certa, pode agradar aos meus netos.
É infantil? Não é do mesmo modo que os anteriores o são. Mas acho que pode ser.

(Aliás, tenho muitas dúvidas acerca da categoria «infantil»...)

No comboio descendente

No comboio descendente
Vinha tudo à gargalhada,
Uns por verem rir os outros
E os outros sem ser por nada —
No comboio descendente
De Queluz à Cruz Quebrada.
No comboio descendente
Vinham todos à janela, 
Uns calados para os outros
E os outros a dar-lhes trela —
No comboio descendente
Da Cruz Quebrada a Palmela.
No comboio descendente
Mas que grande reinação!
Uns dormindo, outros com sono,
E os outros nem sim nem não —
No comboio descendente 
De Palmela a Portimão.
(retirado de http://casafernandopessoa.cm-lisboa.pt/fileadmin/CASA_FERNANDO_PESSOA/Imagens/servico_educativo/No_comboio_descendente.pdf)

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Poesia Infantil de Fernando Pessoa (4)



Poema Pial


Toda a gente que tem as mãos frias
Deve metê-las dentro das pias.

Pia número UM,
Para quem mexe as orelhas em jejum.

Pia número DOIS,
Para quem bebe bifes de bois.

Pia número TRÊS,
Para quem espirra só meia vez.

Pia número QUATRO,
Para quem manda as ventas ao teatro.

Pia número CINCO,
Para quem come a chave do trinco.

Pia número SEIS,
Para quem se penteia com bolos-reis.

Pia número SETE,
Para quem canta até que o telhado se derrete.

Pia número OITO,
Para quem parte nozes quando é afoito.

Pia número NOVE,
Para quem se parece com uma couve.

Pia número DEZ,
Para quem cola selos nas unhas dos pés.

E, como as mãos já não estão frias,
Tampa nas pias!

(retirado daqui: http://casafernandopessoa.cm-lisboa.pt/fileadmin/CASA_FERNANDO_PESSOA/Imagens/servico_educativo/Poema_Pial.pdf)

Há aqui coisas muito estranhas!!!!
Só mesmo as crianças são capazes de entender!!!

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Poesia Infantil de Fernando Pessoa (3)


Pia, pia, pia 
O mocho 
Que pertencia                                             
A um coxo...



Zangou-se o coxo 
Um dia. 
Meteu o mocho 
Na pia, pia, pia.


Retirado daqui:  http://casafernandopessoa.cm-lisboa.pt/index.php?id=2241

Poesia Infantil de Fernando Pessoa (2)

LEVAVA EU UM JARRINHO
Levava eu um jarrinho
P’ra ir buscar vinho
Levava eu um tostão
P’ra comprar pão;
E levava uma fita
Para ir bonita.

Correu atrás
De mim um rapaz:
Foi o jarro p’ra o chão,
Perdi o tostão,
Rasgou-se-me a fita...
Vejam que desdita!

Se eu não levasse um jarrinho,
Nem fosse buscar vinho,
Nem trouxesse uma fita
P’ra ir bonita,
Nem corresse atrás
De mim um rapaz
Para ver o que eu fazia,
Nada disto acontecia
.

Retirado daqui: http://leiturasaoventomaringa.blogspot.pt/2011/06/fernando-pessoa-menino.html

sexta-feira, 21 de março de 2014

Dia Mundial de Poesia (3)

Conheço pouco poesia infantil. Apesar disso, atrevo-me a considerar a poetisa brasileira Cecília Meireles a que melhor consegue fazer poesia para crianças.
Parece simples? Parece. 
É simples? É. 
Aí está o talento.

Dedico especialmente ao J. 

O ECO

O menino pergunta ao eco
Onde é que ele se esconde
Mas o eco só responde: «Onde? Onde?»

O menino também lhe pede
«Eco, vem passear comigo!»

Mas não sabe se o eco é amigo
Ou inimigo.

Pois só lhe posso dizer:
«Migo!»




Dedico especialmente à C.

A Bailarina

Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina

Não conhece nem dó nem ré
mas sabe ficar na ponta do pé.

Não conhece nem mi nem fá
mas inclina o corpo para cá e para lá.

Não conhece nem lá nem si
mas fecha os olhos e sorri.

Roda, roda, roda com os bracinhos no ar
e não fica tonta nem sai do lugar.

Põe no cabelo uma estrela e um véu
e diz que caiu do céu.

Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.

Mas depois esquece todas as danças,
e também quer dormir como as outras crianças.



E o que dedico ao T.?

Uma porta é para abrir
Um degrau é p'ra subir

A sopa é para comer
A água é p'ra beber

A orelha é para ouvir
A boca é p'ra sorrir

A cama é para dormir
Ai que não quero ir, não quero ir...

( Não vá alguém não dar por isso...este poema não é da Cecília Meireles. Tem uma autoria mais caseira...)






sábado, 18 de janeiro de 2014

Outra coisa que não é de avó

Não resisto...
Hoje aprendi um poema, aprendi um poema
«e coisa no mundo mais bonita não há»...
Principalmente quando ele chega pelas mãos do Pai do J.
Maravilhas do faicebuque...

todo o santo dia bateram à porta. não abri, não me apetece ver pessoas, ninguém.
escrevi muito, de tarde e pela noite dentro. curiosamente, hoje, ouve-se o mar como se estivesse dentro de casa. o vento deve estar de feição. a ressonância das vagas contra os rochedos sobressalta-me.
desconfio que se disser mar em voz alta, o mar entra pela janela.
sou um homem privilegiado, ouço o mar ao entardecer. que mais posso desejar? e no entanto, não estou alegre nem apaixonado. nem me parece que esteja feliz. escrevo com um único fim: salvar o dia.
Al Berto



(retirado de: http://abropaginasencontroespelhos.blogspot.pt/2011/08/se-disser-mar-em-voz-alta-o-mar-entra.html)

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Isto não é de avó


ANTÓNIO RAMOS ROSA, o poeta que deixou de escrever aos 88 anos.
E que, pelo ano de 2001, publicou, no livro «As palavras», este poema:

«A palavra é o desejo do espaço e o espaço do desejo
Para que tudo o que em nós é confuso e vago
se transforme em leve arquitectura
com janelas para o mar ou campos ondulados

Não sabemos de onde vem esse desejo incandescente
se é do sangue da terra ou de um voluptuoso vento
e por isso ignoramos se o que escrevemos coincide
com o que em nós se cala numa intérmina neblina

Mesmo quando a palavra é transparente e nua
nunca elimina esse silêncio de montanha imersa
e assim o que nunca foi dito ficará não dito
tão inatingível como a monótona claridade do dia»


Os meus netos estão a entrar neste mundo das palavras, com todo o entusiasmo da descoberta.
Chegará o tempo em que serão capazes de pensar sobre as palavras que lhes ensinámos, adivinhar as palavras que calámos, descobrir as palavras que não conhecíamos...
E saberão que as palavras são tudo o que temos e que esse tudo, sendo muito, é sempre pouco...
Chegará também para eles o tempo da descoberta dos poetas, desses artífices da palavra.Assim, faremos o tempo desaparecer e todos nos encontraremos num mesmo presente.