segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Começar

Começar

Estou a aprender a ser avó.
De um momento para o outro, mais precisamente nove meses, ganhei novo estatuto. Fez dois anos em Agosto que o meu filho me atribuiu outro papel na sua vida. Ainda não sabia como ser sogra e já estava a ser avó! Em apenas dois anos de experiência, ainda não me sentindo apta, eis que a minha filha decide ajudar-me com uma menina que ainda faz parte de si.
Procuro modelos de inspiração. Uma avó, ainda que seja eu, é uma avó. Para mim, antes de ser avó, no tempo em que era neta, avó era calor, aconchego e, principalmente, histórias de encantar... Sereias, águas longínquas, mundos mágicos, monstros e princesas... sorriso calmo e seguro. Acordar de manhã com a cozinha quente e a cheirar já a almoço, tacho de barro horas ao lume, arroz que nunca mais encontrei, doce de tomate e às vezes de pêssego com pêssego mesmo aos bocados tão bom...
Por acaso, as malhas, o tricot, eram tarefas de mãe deixados para trás os bordados das tardes longas de uma juventude vivida ainda nos anos trinta. Mas os serões eram serões de mães e avós com fios de lã, de linhas âncora, perlé... tecidos de linho ou simplesmente botões para pregar nas calças ou meias para passajar...
E agora, na madrugada deste século XXI que irrompeu tão bruto e arrogante, como posso ser avó? Com trabalho, muito trabalho, sem amigas para passar os serões que já não há, como me reinventar? Porque uma avó tem de ser sempre uma avó!