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quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Testamento de D. Afonso II, 3º Rei de Portugal



       Em 1214, D. Afonso II redige testamento. E o que é isso de "testamento", perguntam os meninos, e perguntam bem. O testamento é um documento escrito por alguém - em vida, claro - deixando expressa a sua vontade relativa ao que pretende que seja cumprido após a sua morte. Não é um documento qualquer, pois para ser válido tem que ser reconhecido por entidades oficiais competentes. Assim, o que nele é dito é para ser feito!  Qualquer pessoa pode deixar um testamento, mas se não tiver muitos bens nem nada de relevante para determinar o melhor é deixar-se estar quieto. Não era o caso do nosso rei, claro. Era uma pessoa importante e talvez devido à sua doença receasse morrer novo. Deste modo, teria querido salvaguardar algumas coisas como, por exemplo, a sua sucessão - quem o substituiria após a sua morte -  a distribuição de bens - quem teria direito a receber alguma cosisita e como - , o sítio onde desejaria ser sepultado... Quanto a esta vontade, sabemos que não foi muito fácil de concretizar. D. Afonso II manifestou vontade de ser sepultado no mosteiro de Alcobaça, mas como tinha alguns problemas pendentes com a Igreja só pôde lá ser sepultado anos após a sua morte, que ocorreu em 1223, aos 38 anos, e por intercedência de seu filho, o rei Sancho II.



O mosteiro de Alcobaça foi iniciado em 1178 pelos monges da ordem de Cister com apoio real, o apoio de D. Afonso Henriques. Foi uma boa ideia esta de D. Sancho II, pois este grande mosteiro continua de pé e é um orgulho nacional! É das obras mais importantes da arquitetura gótica europeia! Mesmo tendo sofrido muitas alterações ao longo dos séculos e, atualmente, a sua fachada ser composta por vários estilos e estar muito longe do original gótico. Não foi assim que D. Afonso II o conheceu, não. Mas hoje, quem quer que visite o mosteiro de Alcobaça fica a saber que está lá sepultado, entre muitas outras coisas importantes!

E porque acho muito interessante - descoberta do avô - aqui deixo um excerto do testamento real, retirado de Obras Pioneiras da Cultura Portuguesa (vol. 1, p. 303, sob direção de José Eduardo Franco e Carlos Fiolhais, ed. Círculo de Leitores, Lisboa 2017).
En nome de Deus. Eu rei don Afonso pela gracia de Deus rei de Portugal, seendo sano e salvo, temente o dia de mia morte, a saude de mia alma ea proe de mia de mia molier reina dona Urraca, e de meus filios, e de meus vassalos e de todo meu reino, fiz mia manda per que, depois mia morte, mia molier e meus filios filios e meus vassalos e meu reino e todas aquelas cousas que Deus mi deu en poder sten en paz e en folgancia. Primeiramente mando que meu filio infan[te] don Sancio, que ei da reina dona Urraca, aja meu reino enteiramente e en paz. E se este for morto sen semel, o maior filio que ouver da reina dona Urraca aja o reino entegramente e en paz. E se filio baron nun ouvermos, a maior filia que ouvermos aja-o.

terça-feira, 28 de agosto de 2018

E o terceiro rei de Portugal, quem foi?

D. Sancho I, segundo rei de Portugal, faleceu com 56 anos. Bem mais cedo do que o seu pai, D. Afonso Henriques, que faleceu com 76 anos e que  governou 42. Isto foi muito tempo, pois nestas épocas passadas muito poucas pessoas viviam tanto! Foi mesmo dos reinados mais longos de Portugal o de Afonso Henriques! D. Sancho governou cerca de metade do tempo de seu pai, 26 anos (de 1185 a 1211).
    Sancho tinha sucedido a Afonso por ser seu filho. Agora será a vez do filho de Sancho suceder a seu pai. E temos assim... outro Afonso, tal como seu avô. 

Chegou a vez de Afonso II, terceiro rei de Portugal!!!


imagem retirada de: http://ensina.rtp.pt/artigo/nasce-d-afonso-ii-1185-1223/

    Já os meninos estão a perceber que os reis são reis por serem filhos de reis... Isso quer dizer que a Monarquia é hereditária. Com alguns pormenores, visto que só herdava o trono o primeiro filho varão, quer dizer, o primeiro filho do sexo masculino.

   E o que fez este novo rei, Afonso de seu nome, e segundo, para não se confundir com o seu avô? Que fez D. Afonso II no seu reinado de apenas 12 anos, cerca de metade do de seu pai? Era quase impossível não se meter em guerras. Era o que de mais comum havia para um rei. Assim, lá teve de ajudar o sogro, que lutava contra os mouros no reino de Castela, e também reconquistou para Portugal Alcácer do Sal.
     Porém, este rei não parecia muito preocupado com guerras e lutas, embora algumas tivessem vindo ter consigo. Então não é que até as suas três irmãs, Mafalda, Teresa e Sancha, senhoras donas de castelos doados pelo pai, entendiam que deviam ser donas, senhoras e rainhas? Isso é que não podia ser. Num país não pode haver mais do que um reino! 
   A Igreja e o seu mais alto representante, o Papa, na altura, tinham muito, muito poder. Até mandavam nos reis se fosse preciso!! Então Afonso arranjou maneira de meter o Papa ao barulho, que é como quem diz, arranjou modo de ser ele a resolver o problema. Pois lá se encontrou uma boa solução... rainhas, sim, mas pouco.  Rainhas nas suas terras que eram, por sua vez, terras de Portugal. Lá ficaram com algum poder e ao que parece não houve mais complicações. Às vezes, é assim, o que as pessoas querem é mandar. Desde que mandem um pouco já ficam satisfeitas. Ora, este rei que era rei mesmo, tinha que mandar!!! Por isso, pensou numa boa maneira de garantir que quem mandava em Portugal eram os portugueses que lá viviam e o seu rei. Foi assim que teve a ideia de reunir representantes da nobreza, quer dizer, aqueles que habitavam no reino e tinham riqueza, poder e prestígio (e queriam ter cada vez mais e sempre riqueza, poder e prestígio) e do clero, quer dizer, aqueles que habitavam principalmente nos mosteiros, que sabiam ler e pintar bonitas iluminuras e que detinham também riqueza, poder e prestígio (e que queriam cada vez mais e sempre riqueza, poder e prestígio, tanto na terra como nos céus). Portanto, reuniu-se com quem era parecido com ele, e, o povo, que trabalhava, trabalhava, trabalhava sem ter alguma vez riqueza, poder ou prestígio ficou de fora dessas reuniões. Mas naquele tempo as coisas passavam-se assim, e durante muito tempo assim continuaram, o que não quer dizer que os reis, pelo menos alguns, não se preocupassem com o povo. Este até foi um deles.
     Reuniu-se o rei com a nobreza e o clero nas primeiras cortes de Coimbra em 1211! Há quem diga que este facto foi dos mais importantes do seu reinado! Por que será? É que foram decididas leis. Isso mesmo, leis. Leis escritas num papel para ninguém se esquecer e toda a gente cumprir. Até o Rei! Essas leis procuravam que houvesse uma ordem respeitada por todos e que fosse considerada como justa. Por exemplo, determinavam que os que trabalhavam nas terras dos senhores podiam vender uma parte dos produtos que produziam. Parece muito evidente, não é? Não, porque era habitual terem de dar praticamente todas as suas colheitas aos senhores das terras onde trabalhavam. Ficavam só com pouco, muito pouco, tão pouco que eram muito pobres e sempre continuavam  muito pobres. 
     E havia muitas outras leis.  Por exemplo, o clero que gostava muito de ter terras, não podia adquirir assim tantas como queria. D. Afonso II queria um reino onde ele fosse um rei que mandasse (e não os outros nobres ou a igreja) e um reino com leis que fossem respeitadas para que a vida das pessoas, e do reino no geral, pudesse ser mais organizada e não estivesse sempre dependente daquele que fosse mais forte, mais bruto, com mais armas e mais poder. 
     Um bom esforço, Afonso!! (Quase que rima).

    As cortes foram tão importantes que, até no século XX, um artista, Guilherme Duarte Camarinha, criou um extraordinário desenho ilustrando as primeiras cortes de Coimbra, como sempre são referenciadas, para as habilidosas tecedeiras de Portalegre transformarem numa bela tapeçaria. 

Imagem retirada de https://justica.gov.pt/blogue-justica/Blogue-da-Justica/As-primeiras-cortes-em-Portugal
    D. Afonso II, apesar de ter falecido cedo, com apenas 38 anos, ainda teve 5 filhos da mulher com quem casou e, continuando a tradição familiar, mais outros 2 de outras damas.  

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

D. Sancho I, o primeiro rei poeta?


Ninguém sabe bem, mas há estudiosos que defendem que D. Sancho não só se interessou por poesia como também a escreveu. Será dele esta cantiga de amigo, escrita em galaico-português. Pois é, meninos, a língua portuguesa propriamente dita, ainda não existia de forma independente.


Português moderno
Ai eu, coitada, como vivo
em grande cuidado por meu amigo
que tenho longe!
Muito me tarda
o meu amigo na Guarda!
Ai eu, coitada, como vivo
com grande desejo por meu amigo
que tarda e não vejo!
Muito me tarda
o meu amigo na Guarda!
Português antigo
Ay eu, coitada, como uyuo
en gram cuydado por meu amigo
que ey alongado!
muyto me tarda
o meu amigo na Guarda!
Ay eu, coitada, como uyuo
en gram desejo por meu amigo
que tarda e non uejo!
muyto me tarda
o meu amigo na Guarda!
(retirado de https://www.estudioraposa.com/index.php/category/poetas/d-sancho-i/)

Não resisto a deixar aqui a composição de um cantor que muito aprecio, Amancio Prada, que musicou várias canções de amigo, entre elas esta que se atribui ao nosso rei D. Sancho I.




E quem foi o segundo Rei de Portugal?


 retirado de https://pt.wikipedia.org/wiki/Sancho_I_de_Portugal
D. Sancho, pois. Eis aqui a escultura de João Cutileiro, um escultor deste século, que está colocada em frente ao castelo de Torres Novas. E porquê Torres Novas? Ora bem, a fundação deste castelo é muito, muito antiga. Já existia no tempo de D. Afonso Henriques!! D. Sancho, após ataque dos mouros e da sua derrota pelos valentes portugueses, avançou com a sua reconstrução e fortificação. E deu tanta importância à cidade que lhe passou carta de foral. Isso significava uma certa autonomia e poder das populações. É uma coisa sempre boa!


Continuando a nossa história, agora à volta do seu nome...Devia ser Sancho Henriques, não? Parece, mas a verdade é que, como já é filho de Rei, não precisa de qualquer apelido. Isto não acontecia com D. Afonso Henriques que era, por nascimento, um simples conde, filho de conde. 
D. Sancho e basta! DOM...S A N C H O... I !!!! (entoar lentamente com ar de importância).
Dom, porque era assim o tratamento diferenciado. Um rei não é um qualquer, embora o Dom fosse atribuído, no geral, aos nobres. Sancho era o seu nome. Aqui para nós, nome que não teve muito futuro, pois não? Muitos Afonsos existem por aí, mas Sanchos nem por isso... 
Primeiro, está claro, por ser o primeiro Sancho...

E o que fez este D. Sancho, depois das conquistas de seu pai? 
Vamos olhar para um mapa de Portugal em 1185, aquando da morte do rei Afonso Henriques, e um mapa de Portugal de hoje.

Imagens retiradasde http://www.ribatejo.com/hp/base/cgi-bin/ficha_imagem.asp?cod_imagem=160 e de http://2050.pt/google-maps/, respetivamente.


  Isto parece um jogo de... Veja as diferenças!!! Pois, há algumas e bem evidentes... 
- Onde está o Algarve??? 
- Nas mãos dos Mouros!
   Muito bem! Então, foi para lá que se dirigiu o novo rei. Uma das conquistas de D. Sancho foi Silves, uma bela cidade do Algarve, em 1189, e neste ano de 2018 tão fustigada com os fogos! Mas, não mudemos de assunto. D. Sancho conquistou Silves, autointitulou-se pela primeira vez, REI DE PORTUGAL E DOS ALGARVES, mesmo que lhe faltasse a importante cidade de Faro e que Silves tivesse retornado, ainda no seu reinado,  para domínio muçulmano (logo 2 anos depois, em 1191...).

Retirado de https://historiadeportugalparatodos.blogspot.com/2016/07/capitulo-ii-formacao-do-reino-de.html (adapt.)


Dá para ver que as conquistas não foram o seu forte! As conquistas de terras, entenda-se. 
    Porém, havia muito trabalho a fazer! Depois das terras conquistadas por seu pai era preciso tratar da sua organização e povoamento. É assim que este Rei ficou conhecido pelo Povoador. Há quem goste de brincar e diga que começou logo por ele... Então não é que teve cerca de 20 filhos? Onze filhos da mulher com quem casou e outros de outras damas por quem se encantou... 

Por último, um pormenor muito, muito importante, D. Sancho I apreciava as artes e a literatura e patrocinou a ida de estudantes para o estrangeiro, como hoje acontece com o programa Erasmus! Diz-se, até, que escreveu poesia! Isto de um rei se dedicar às artes é sempre de registar, ainda por cima numa altura em que não se dava muita importância a saber ler e escrever (a grande maioria dos nobres era analfabeta!) e em que se valorizava mais as artes da guerra do que as artes da pena!!! Isto sou eu a brincar com a palavra "pena", porque nesta altura, para se escrever, tinha que se usar uma pena. Uma pena a sério! 


Imagem retirada de: http://www.antiguidadeseraridades.com.br/penas-de-escrita-como-eram-antigamente.html
    Mas esta história fica para outra publicação, assim como a dos poemas de D. Sancho.

quinta-feira, 30 de junho de 2016

D. Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal

Era uma vez um jovem que decidiu que não lhe bastava ter um condado... Ele queria era ser rei! Ora, isso não era assim tão fácil! Era preciso lutar muito. E foi o que ele fez! Lutou mesmo a sério, em batalhas como só havia naquela altura, vestido com um fato de malha de ferro muito pesado, em cima de um cavalo tão valente como ele!

Escultura de D. Afonso Henriques a cavalo:

Imagem retirada de http://cavalonet.com/pt/noticias/noticias2.php?id=835

Escultura de D. Afonso Henrique, em pose de Rei, em frente ao Palácio dos Duques de Bragança, em Guimarães, terra onde nasceu e de onde partiu para as suas conquistas:

Imagem retirada de http://realidademedia.blogspot.pt/2009_11_01_archive.html

Desenho de um guerreiro medieval, pronto para combater!

imagem retirada de http://www.educolorir.com/paginas-para-colorir-cota-de-malha-i13280.html



Estavamos no século XII. Das várias batalhas em que lutou com o seu exército, duas ficaram célebres: a batalha de S. Mamede, perto de Guimarães (contra os exércitos de sua mãe, que não concordava nada com ele) e a batalha de Ourique, no Alentejo, contra os mouros. Foi depois de ter ganho esta batalha, em 1139, que Afonso Henriques e o seu exército, de tão entusiasmados, o proclamaram rei. E assim foi. E assim nasceu Portugal.



Este vídeo é dirigido às crianças que começam a interessar-se sobre a História de Portugal, como é o caso dos meus netos.  Nele se conta, através de uma animação, como é que Afonso Henriques se tornou rei e como nasceu este país onde nascemos.