Este blogue é feito de memórias, de vivências, de desejos, de realidade e de sonho. Nele pulsa a infância e a eterna procura dela. É dedicado aos meus netos.
- Vamos ao moinho? - Sim. - Levamos uma cabacinha de vinho? - Sim. - Penduramo-la num carvalhinho? - Sim. - Vamos ver quem é o galo e a galinha?
- Ffffffffff (som de sopro...)
«Ganhei!», diz o J.
Quem soprar mais forte ganha, explica o J., perante o meu ar de quem não estava a perceber muito bem...
«Quem sopra mais forte é o galo», completa a mãe.
Nunca tinha ouvido esta lengalenga.
É divertida, como todas costumam ser.
E gostei muito de a ter aprendido do meu querido neto.
Para mim esta canção é do tempo em que por cá se dizia que os bebés vinham de França nos bicos das cegonhas...
é do tempo em que de Paris chegava a cultura e a filosofia...
em que para França partiam os pobres e os ricos
os estudantes os pintores os prosadores e os poetas
alouette gentille alouette
je te plumerai le bec
não voltavam ou voltavam
traziam palavras
chegavam com canções
com ideias e com esperança
a França era um lugar para se desejar
esta canção é agora do tempo em que da França já não chegam palavras
e pouca já é a filosofia
poucos partem poucos chegam
já lá não moram sonhos
alouette gentille alouette
je te plumerai la tête
E assim, sem cabeça, gentil cotovia
andamos todos
que tudo nos cortam
as asas
e as asas
o bico
e o bico
alouette gentille alouette
soa bem
é bom de se entoar
mesmo que cotovia seja uma palavra mais bonita
e a história de uma cotovia a quem tudo depenam seja uma história triste
"depenar" também é uma palavra mais bonita do que "plumer"
E ainda mais bonita é a expressão "perder a pena"...
o que vale é que aprendemos estas canções no tempo em que não havia porquês
assim as repetimos sem explicações
e com o mesmo entusiasmo infantil...
alouette gentille alouette
alouette je te plumerai....
Gosto desta versão... será do ritmo, do ar indiferente da cotovia? A verdade é que já conquistou a C. e o J.
A orientação musical deve acompanhar outras aquisições como a fala ou
escrita
2013-06-05
A música ajuda no relacionamento com os
outros.
Observando directamente a relação dos recém-nascidos com a
música, Helena Rodrigues, coordenadora do Laboratório de Música e Comunicação na
Infância (LAMCI) conclui que a sensibilidade musical ocorre em idades muito
precoces.
“A investigação de João Pedro Reigado, levada a cabo no
Laboratório de Música e Comunicação na Infância do CESEM da Faculdade de
Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa, sustenta a
hipótese de que os processos de aquisição da voz cantada se desenrolam durante o
segundo ano de vida. De acordo com dados de observação directa, é possível que
isto ocorra numa idade ainda mais precoce”, explica Helena
Rodrigues.
Nos primeiros meses de vida acontecem aquisições que são
determinantes para a aprendizagem. Há estudos que revelam que o recém-nascido
possui desde cedo competências para interagir e comunicar. “Assim, a
qualidade da orientação musical a fornecer logo após o nascimento é de grande
importância como base para outro tipo de aprendizagens, pois a actividade
musical é global e é uma fonte de estímulo para a aquisição de competências
linguísticas, espaciais e sociais”, explica a investigadora.
A
aprendizagem musical deve começar de modo informal, tal como acontece com a
aquisição de outros conhecimentos, nomeadamente a língua, a escrita e leitura.
“Em termos musicais é necessária uma preparação idêntica à que precede a
entrada de uma criança na escola para aprender a ler ou a escrever ou para
resolver problemas de matemática. Este período de instrução informal deverá ser
como que um prelúdio para a instrução formal a ocorrer posteriormente”,
adianta Helena Rodrigues.
A música tem um efeito sobre o bebé e tem
também efeito sobre a relação com os pais. A música acarreta um sentido de
pertença, um sentimento que “necessitamos bem cedo nas nossas
vidas”. Helena Rodrigues diz não ter dúvidas “de que a música
tem um potencial de conexão muito forte e que através de práticas musicais
podemos mediar a descoberta fabulosa de nos relacionarmos com outros seres
humanos”.
Estas conclusões são retiradas, em parte, da
observação directa da relação de bebés e pais em sessões musicais promovidas
pelo Laboratório de Música e Comunicação na Infância.
Esta entidade,
criada em em 2009 no âmbito do projecto “Desenvolvimento Musical na Infância e
Primeira Infância” financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, é um
espaço que permite a observação do comportamento musical num contexto de
interacção naturalista dispondo de condições para análise em vídeo.
Neste
momento, colaboradores do Laboratório procuram aplicar critérios de observação
objectiva para a descrição e análise de várias situações de interacção de
musical. O LAMCI acolhe ainda as sessões de Música de Colo, que juntam pais e
bebés aos sábados de manhã, e é “uma estrutura logística que tem dado
grande apoio às actividades de formação desenvolvidas na FCSH e tem um papel
determinante no Projecto Opus Tutti. As palavras-chave do tipo de trabalho que
desenvolvemos são: Investigar/ Formar/ Criar / Intervir. Ou seja, a filosofia do
LAMCI caracteriza-se pela adopção de fórmulas de trabalho em que se procurar
articular mundos que tradicionalmente andam separados”, conclui Helena
Rodrigues.
Há canções bonitas. Façam parte ou não da nossa história.
Há filmes bonitos.
Todas as coisas belas tendem a perpetuar-se no tempo.
É assim que eu penso.
Agora, que a morte fez com que se ouvisse falar de Moustaki,
também eu me recordei das suas canções e
escolho esta, que encontrei no youtube acompanhada de um excerto do filme «The Kid» com o inconfundível Charlot...
Gosto muito desta balada do Zeca Afonso. De tal modo que já está neste blog desde 2 de Agosto de 2011 (Esta não é uma canção para crianças!) Agora descobri no youtube esta versão do Adriano. Apesar de gostar muito dele e achar que tem uma claridade na voz que me seduz irremediavelmente, nesta canção gosto mais da interpretação do Zeca Afonso, que considero mais profunda e intimista.
O que me vale é o bom gosto dos meus netos...
Isto de ser avó é um privilégio! A vida continua a ser uma surpresa contínua. E não só por causa da redescoberta dos Marretas, claro. Muppets, muppets... tenho que me habituar a esta linguagem...