Este blogue é feito de memórias, de vivências, de desejos, de realidade e de sonho. Nele pulsa a infância e a eterna procura dela. É dedicado aos meus netos.
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
Era uma vez
Depois do J. e da C. terem experimentado as emoções das histórias tradicionais sem finais politicamente correctos, ainda conto cantar-lhes esta pequena canção do Paco Ibanez de que gosto tanto!
Ainda não te ouvi a cantar esta :) e de certeza absoluta que tocas e cantas melhor do que o Paquito. Porque ninguém como tu uns olhos de avó.E o Paco, menos. E não sei porque me lembrei de uns versos antigos que sempre me baralhavam em criança "minha velha ama que me estás fitando canta-me cantigas de dormir, sonhar". Então, não sabia o que era uma ama, imaginava-a alguém muito muito velho e estranhava, uma voz velhíssima, a cantar para adormentar um adulto que voltava a casa. Que é das amas, caramba...
"Minha velha ama que me estás fitando canta-me cantigas para me eu lembrar..."
Trapalhona como sou, devo estar a aldrabar a letra... O costume! Engraçado..também fiz este registo. Só não consigo lembrar exactamente se era o meu Pai que me recitava se li num dos livros da nossa infância... Deixa-me uma easpécie de tristeza, de nostalgia... do que foi vivido ou do que o não foi...
Não resisti e tive de ir conferir. E acho afinal que ouvia a meu Pai.
Regresso ao Lar
Ai, há quantos anos que eu parti chorando Deste meu saudoso, carinhoso lar!... Foi há vinte?...há trinta? Nem eu sei já quando!... Minha velha ama, que me estás fitando, Canta-me cantigas para eu me lembrar!...
Dei a volta ao mundo, dei a volta à Vida... Só achei enganos, decepções, pesar... Oh! a ingénua alma tão desiludida!... Minha velha ama, com a voz dorida, Canta-me cantigas de me adormentar!...
Trago d'amargura o coração desfeito... Vê que fundas mágoas no embaciado olhar! Nunca eu saíra do meu ninho estreito!... Minha velha ama que me deste o peito, Canta-me cantigas para me embalar!...
Pôs-me Deus outrora no frouxel do ninho Pedrarias d'astros, gemas de luar... Tudo me roubaram, vê, pelo caminho!... Minha velha ama, sou um pobrezinho... Canta-me cantigas de fazer chorar!
Como antigamente, no regaço amado, (Venho morto, morto!...) deixa-me deitar! Ai, o teu menino como está mudado! Minha velha ama, como está mudado! Canta-lhe cantigas de dormir, sonhar!...
Cante-me cantigas, manso, muito manso... Tristes, muito tristes, como à noite o mar... Canta-me cantigas para ver se alcanço Que a minh'alma durma, tenha paz, descanso, Quando a Morte, em breve, ma vier buscar!...
Guerra Junqueiro (1950). Os Simples (poesias líricas). Lello & Irmão-Editores,117-119.
Ainda não te ouvi a cantar esta :) e de certeza absoluta que tocas e cantas melhor do que o Paquito. Porque ninguém como tu uns olhos de avó.E o Paco, menos.
ResponderEliminarE não sei porque me lembrei de uns versos antigos que sempre me baralhavam em criança "minha velha ama que me estás fitando canta-me cantigas de dormir, sonhar". Então, não sabia o que era uma ama, imaginava-a alguém muito muito velho e estranhava, uma voz velhíssima, a cantar para adormentar um adulto que voltava a casa.
Que é das amas, caramba...
"Minha velha ama que me estás fitando canta-me cantigas para me eu lembrar..."
ResponderEliminarTrapalhona como sou, devo estar a aldrabar a letra... O costume! Engraçado..também fiz este registo. Só não consigo lembrar exactamente se era o meu Pai que me recitava se li num dos livros da nossa infância...
Deixa-me uma easpécie de tristeza, de nostalgia... do que foi vivido ou do que o não foi...
minha velha ama, que me estás fitando...
Não resisti e tive de ir conferir. E acho afinal que ouvia a meu Pai.
ResponderEliminarRegresso ao Lar
Ai, há quantos anos que eu parti chorando
Deste meu saudoso, carinhoso lar!...
Foi há vinte?...há trinta? Nem eu sei já quando!...
Minha velha ama, que me estás fitando,
Canta-me cantigas para eu me lembrar!...
Dei a volta ao mundo, dei a volta à Vida...
Só achei enganos, decepções, pesar...
Oh! a ingénua alma tão desiludida!...
Minha velha ama, com a voz dorida,
Canta-me cantigas de me adormentar!...
Trago d'amargura o coração desfeito...
Vê que fundas mágoas no embaciado olhar!
Nunca eu saíra do meu ninho estreito!...
Minha velha ama que me deste o peito,
Canta-me cantigas para me embalar!...
Pôs-me Deus outrora no frouxel do ninho
Pedrarias d'astros, gemas de luar...
Tudo me roubaram, vê, pelo caminho!...
Minha velha ama, sou um pobrezinho...
Canta-me cantigas de fazer chorar!
Como antigamente, no regaço amado,
(Venho morto, morto!...) deixa-me deitar!
Ai, o teu menino como está mudado!
Minha velha ama, como está mudado!
Canta-lhe cantigas de dormir, sonhar!...
Cante-me cantigas, manso, muito manso...
Tristes, muito tristes, como à noite o mar...
Canta-me cantigas para ver se alcanço
Que a minh'alma durma, tenha paz, descanso,
Quando a Morte, em breve, ma vier buscar!...
Guerra Junqueiro (1950). Os Simples (poesias líricas).
Lello & Irmão-Editores,117-119.
Retirei de http://users.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/v343.txt
ResponderEliminarO seu a seu dono
Ai. Enganei-me. Deve ser da Psiquê :)
ResponderEliminarAi. A memória guardou mal. Deve ser da Psiquê :)
ResponderEliminarLeste a penúltima estrofe, por acaso?...
ResponderEliminar