domingo, 16 de dezembro de 2018

Quebra-nozes



Hoje, 16 de dezembro de 2018 (mas porque é que estes cartazes não têm o ano?) fui com a C. o T. e respetiva mamã, assistir ao bailado "O Quebra-Nozes". Foi o bailado inaugural do T. (como espectador, está bem de ver). Fora a interrupção quase no final para uma urgência, esteve muito bem (pudera, também esteve sempre ao colinho...). A C. é que, diferentemente do habitual, teve muita dificuldade com o 2º acto. Tenho que dizer que a compreendi. Há aspectos lúdicos e narrativos na 1ª parte que se vão perdendo na 2ª. O bailado propriamente dito, os diversos momentos, são extraordinários. Mas acabam por aparecer quase mecanicamente perdendo-se a dimensão da história e da fantasia que só é retomada mesmo quase no final. Além disso, não se sentia muito bem disposta. Acontece. Conclusão: valeu a pena. Para o ano podemos repetir que não faz mal. 




A coreografia deste espectáculo é de Mehmet Balkan, os cenários e Figurinos de Olaf Zombeck. E à falta de imagem/ de video deste espectáculo, deixo aqui um breve apontamento da versão de 2014 pela mesma Companhia Nacional de Bailado, coreografia de Fernando Duarte e encenação e dramaturgia de André e. Teodósio. Comentário à parte, a minha memória é mesmo uma desgraça. É que também fomos ver este espectáculo e apenas tenho dele uma ideia vaga e imprecisa. Diria que a encenação foi mais original e apelativa. (ver aqui post de 27 de dezembro).








domingo, 16 de setembro de 2018

Da diferença entre "escrever" e "ler"


"Eu sei escrever. Não sei é ler"

É claro que isto é uma evidência para o T. Só não é para os adultos. Para certos adultos, de mentes formatadas, sem ponta de imaginação. Pois se
isto não é exemplo de escrita, é exemplo de QUÊ?



Os adultos que não compreendem isto são os mesmos que não compreendem que isto NÃO É um chapéu:



NB. A quem tiver dificuldades em compreender este post aconselha-se a (re)leitura de "O Principezinho". Se não sabe quem é o autor, nem vale a pena preocupar-se, o seu estado é irrecuperável.







sábado, 8 de setembro de 2018

Tem segredos


 - Ó T., tem segredos!...

     Ouço a C. dizer para o T., envolvendo-o e falando-lhe quase ao ouvido, quase em sussurro, depois de ter recebido o Diário que tinha pedido...Com chave, a chave é fundamental!


       Que livro misterioso é este com uma chave e que guarda segredos? Um livro com segredos!!! É coisa cheia de mistério... 

- Ó Mãe, também quero um Diário, diz o T.

Sou quase adolescente!!!

A C. fez sete anos em março. 

Há já algum tempo, ainda não era tempo de férias, portanto, os sete anos eram ainda bem fresquinhos, encontro-a, juntamente com o mano (com cinco anos), olhando para a TV atentamente. Já tinha acabado o programa anterior e estava a dar uma daquelas séries que, embora nunca tenha conseguido ver por completo, me fazem logo considerar de qualidade suspeita ao ouvir a má dobragem, umas vozes muito gritadas com gente adolescente pelo meio representando pior do que os iniciantes dos Morangos com Açúcar... Sendo assim, disse-lhes que era melhor procurar outro programa porque aquele não era para a idade deles, era para meninos mais crescidos. 
    Resposta pronta da C. em tom meio indignado e com olhar cúmplice...

Ó vó, eu sou quase adolescente!!!


Imagem retirada de http://umagarotaadolescente2012.blogspot.com/2013/06/desenhos-e-imagens.html



sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Picasso

Continua o périplo dos meus netos pelas exposições em Londres. Desta vez Picasso, na Tate Modern. 
      "A exposição “Picasso 1932 – Love, Fame, Tragedy” vai juntar cerca de 100 obras (entre pinturas, esculturas e desenhos e alguns objectos pessoais) e vai construir um olhar detalhado sobre o dia a dia do ano de 1932 na vida do escultor, ceramista, cenógrafo, poeta e dramaturgo espanhol Pablo Picasso.
Com duas grandes exposições em 1932, Pablo Picasso quis mostrar ao mundo que era “o maior artista vivo”, para superar também Henri Matisse ou Georges Petit, e pintou furiosamente vários telas em apenas um dia, revelou a curadora Virginie Perdrisot." in https://www.comunidadeculturaearte.com/tate-modern-em-londres-vai-dedicar-pela-primeira-vez-uma-exposicao-a-pablo-picasso/



Não sabemos o que os olhares e a memória infantis irão reter... Não sabemos o que um olhar infantil pode captar. 

   A propósito, lembro-me de ter visto uma exposição sobre Picasso, há muitos anos, com o meu filho mais velho, que não teria mais de 4 anos. Lembro-me que o tinha ao colo quando, perante a Guernica pergunta de rompante                                       
                          Mãe, porque é que o cavalo está a gritar?
Imagem retirada de http://www.museoreinasofia.es/coleccion/obra/guernica

terça-feira, 4 de setembro de 2018

Na Inglaterra parece que é sempre inverno...

Não é a primeira vez que a C. comenta o estado do tempo em Londres... Há cerca de 3 anos (sim, confirmei, foi há 3, três) num post datado de 18 de agosto de 2015, faço referência às estações do ano e ao desconcerto do tempo por terras lusas. Foi isto a propósito de um comentário da C. que, vinda do Chipre, da praia e do calor, chegada a terras de sua Majestade, considerou que estava inverno. Tinha, então, 4 anos. Agora, três anos volvidos (reafirmo não estar enganada), conhecedora das quatro estações do ano, mais consciente da diferença entre "parecer" e "ser" (ou "estar") comenta  

Aqui parece que é sempre inverno


     Porém, quando a C. aprecia o tempo londrino e diz que "parece inverno", está a pensar no "nosso" inverno, não no inverno  londrino. Estou a ver bem?


Acrescenta, ainda, já dada a subtilezas da psicologia

As pessoas tristes...
 Nunca sorriem...

Eu sou de Portugal, mas gosto da Grécia




   Eis uma foto do Partenon nos dias de hoje, visitável na cidade de Atenas, na Grécia. O Partenon é um templo erigido à deusa Atena, no século V a. C., na Grécia Antiga, sob o governo de Péricles.  São ruínas, mas ainda é possível imaginar a sua original grandeza...

Imagem retirada de https://www.infoescola.com/grecia-antiga/partenon/
    
    A próxima imagem é uma reconstrução feita em computador. 


E aqui temos uma bela aguarela imaginando-a na Acrópole, lá bem no alto! 




  A Acrópole nas cidades da Antiguidade é o equivalente aos centros das cidades de hoje, onde se concentravam os edifícios e as atividades mais relevantes, onde os cidadãos se encontravam para tratar de assuntos públicos.   

   Se conseguíssemos trazer todas as peças que estão no Museu Britânico em Londres e se a elas juntassemos as que estão no Museu da Acrópole em Atenas, com jeitinho, ainda conseguiríamos reconstruir o Partenon!!! E depois? Depois era uma problema porque a poluição de Atenas estraga tudo!!!

Bem...mas o que fazem os ingleses no meio disto?
🤔

Ora, Ora, isto são coisas da História!!! Passaram-se muitos anos desde que o Partenon foi construído em honra da deusa Atena, e, como diz o ditado, muita água correu sob a ponte...


Abreviando, que isto não é história só para um post, os ingleses andaram por terras de gregos e, alguns deles, acharam as esculturas do Partenon tão bonitas que não resistiram e trouxeram-nas para Londres. 

Cavaleiros...


Homem lutando com Centauro (metade homem, metade cavalo)

   Verdade se diga que as têm tratado bem! Estão preservadas e estão expostas ao público. Mesmo assim, os gregos não acham muito bem que esculturas que pertencem a um monumento da sua cidade, e que foram de lá levadas sem o seu consentimento, não retornem ao seu país! Essa situação causa algum mal estar e não está resolvida.

   Ora, a mãe da C. e do T. resolveu dizer qualquer coisa parecida com isto na última visita dos pimpolhos ao British Museum...
Lá os estou a imaginar percorrendo esta sala...



   Ouvindo tal história, o T., que tem pouca ou nenhuma fleuma, é o que se diz jovem que ferve em pouca água, reagiu, e disse no que parece um grito de revolta

"Eu sou de Portugal, mas gosto da Grécia. Respeitem a Grécia. Estou furioso."




Nota - as imagens aqui reproduzidas foram retiradas de
https://www.theacropolismuseum.gr/

https://blog.britishmuseum.org/an-introduction-to-the-parthenon-and-its-sculptures/?_ga=2.117449537.998615962.1536073960-307649176.1536073960

sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Maria João Pires no país dos miniaturistas...

     Chegará o dia em que os meus netos, assim o creio, hão-de ouvir falar de Maria João Pires. Eu tive o privilégio de a ter visto. A primeira vez, visão que me impressionou, foi a meados da década de 80 (não sei precisar o ano) num concerto na cidade de Évora. Figura frágil, parecia esvoaçar naquele vestido fluido que fez da sua entrada em palco um deslizar. Fixei essa imagem e sempre que me lembro dela vejo-a nesse vestido longo e leve, cor de céu a anoitecer, a dirigir-se ao grande piano ao qual se abraçou e com o qual se agigantou. 
    Sempre me impressionou em todos os aspetos... a sua figura, a sua beleza, a sua expressão, as suas ideias, a sua sensibilidade, o seu talento. Para mim, desde muito cedo, reunia tudo o que eu poderia pensar acerca do que era um artista. A personificação da arte. Nunca me dediquei a pensar o quanto poderá ter esta visão de ingenuidade e idealismo. De qualquer modo, nunca me senti desiludida.
     Maria João Pires é uma pianista de renome mundial, reconhecida internacionalmente como das maiores intérpretes de música para piano, particularmente clássica e romântica. 
    Acho que teve um sonho. Um sonho lindo. Maria João desenvolveu um projeto pedagógico em Belgais, com crianças de um meio eminentemente rural. Belgais era uma aldeia a cerca de 20 Km de Castelo Branco, bem longe da capital e de toda a sua poluição (literal e metafórica). As coisas não acabaram bem. Coisas deste género, neste país, dificilmente acabam bem. Muitas nem sequer começam. Aqueles que as podiam levar a cabo têm de deixar o país, simplesmente por não terem nele espaço...Às vezes de um modo natural, outras de um modo mais dramático e sofrido.        
      Quanto à música clássica, continuamos a ser um país "muito periférico", nas palavras de Artur Pizarro (http://upmagazine-tap.com/pt_artigos/artur-pizarro-toque-de-genio/) ou um país "onde só se tolera miniaturas", em que "o pequenino basta-nos". 
   "Olha, vais ter grandes problemas neste país. Nasceste num país de miniaturistas", teriam sido palavras de João de Freitas Branco ao então pequenino (literalmente...) António Victorino de Almeida, na altura com 6/7anos... (cf. Programa Entre Tantos, da TVI, em  http://tviplayer.iol.pt/programa/entre-tantos/5b4484e70cf2013c4279817e/video/5b6f57290cf282952f039677, no final, aos 23')
  
   O sonho de Belgais morreu. Atualmente Maria João Pires não vive em Portugal. Fixou residência e tem também cidadania brasileira.
     Deixo aqui a interpretação de Maria João Pires de um concerto célebre de Mozart, o Concerto nº 21, K. 467. Chegará o dia em que os meus netos, assim o creio, o hão-de ouvir. Neste caso, considero a filmagem, também, admirável. O preto e branco, a focagem no seu rosto belíssimo, na sua expressão, tanto quando toca como quando aguarda a entrada, toda a filmagem, incluindo a dos outros instrumentistas, é profundamente expressiva. Este filme é de Adrian Marthaler, como informa o autor da publicação no youtube, e revela uma obra de artista. Consegue acompanhar o concerto, sem provocar ruído ou distração. 

Espero que o youtube não retire este link...https://www.youtube.com/watch?v=NMQXIH0FH-E




Nota - Sobre Belgais, encontrei um texto muito interessante de Mário Castrim, datado de 2000, dirigido a um público juvenil em http://www.audacia.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EEuZplApklWtMNWLpN. Curiosamente, numa revista que acompanhou a minha infância, creio que desde o seu início, em 1966, a revista Audácia.

O Caracol não gosta de sol


O Caracol

O Caracol acordou.
Chegou a cabeça à porta da concha,
pauzinhos meio encolhidos, espreitou.
Dia não era, mas tanta claridade...
Seria a madrugada ou o fim da tarde?

Estendeu mais os pauzinhos,
os quatro que tem muito fininhos.
Nos maiores brilharam os olhos
muito vivos mas pequeninos
[vendo apenas luz e sombra].
Nos outros dois, como dois radares
que não precisam de rodar,
abre-se o olfato par a par.

Bem desperto e muito atento
o Caracol olhou para o chão,
depois para o ar, para o céu.
Era a Lua a passear.
- Muito bem!, disse contente,
Se a Lua anda na rua 
é porque o sol está deitado
Posso ir à vontade!


Excerto de um poema de Marina Algarvia in Histórias nunca lidas..., Lisboa, F.C.G.,VII série, 5, 1991, p. 48-49 (adapt.)

Nota - O que aparece entre parênteses reto e a itálico é da minha responsabilidade. A imagem foi retirada de https://pt.dreamstime.com/imagens-de-stock-desenhos-animados-bonitos-do-caracol-na-folha-image39807054

Caracol não põe os pauzinhos ao sol...

Já aqui temos falado do caracol. Animal que convive muito bem connosco nos quintais e nos jardins. Bem gostava eu, quando era pequenita, de os atormentar fazendo-os ora sair ora esconder dentro da concha, tocando nos seus pauzinhos espetados e entoando a cantilena...

caracol, caracol, põe os pauzinhos ao sol

retirada de https://descla.pt/2018/07/16/festival-internacional-do-caracol-em-castro-marim/



Não, não, ao sol é que ele não põe os pauzinhos... Gosta de comer coisas verdes e tenrinhas, com os seus muitos dentinhos, mas à fresca... O seu corpinho mole gosta de humidade, por isso precisa de vez em quando de nela se resguardar.








Imagem retirada de https://br.depositphotos.com/48297813/stock-photo-snail-shell-on-tree-trunk.html





O nome dos 7 anões em português, francês, inglês e grego

A história da Branca de Neve é muito, muito antiga... É claro que depois do filme de Walt Disney se tornou ainda mais conhecida... E, então agora, com a facilidade em aceder a ele através da net... conhecida em todo o mundo...
Por isso, achei muita graça, quando dei na Wikipédia com os nomes dos 7 anões em várias línguas. E como a família é poliglota, quem quiser que escolha o idioma de que mais gosta!!! E dúvidas que haja, perguntar aos especialistas!!!     


Em Português            Em Francês          Em inglês           Em grego

1- Sabichão                1 - Prof                  1 - Doc                1 - Σοφος
    
2- Tímido                     2 - Timide               2 - Bashful        2- Ντροπαλος

3- Atchim                     3 - Atchoum            3 - Sneezy        3 - 
Συναχωμενος

4- Feliz                        4- Joyeux                4 - Happy           4 - 
Καλοκαρδος

5- Mudo                       5 - Simplet               5 - Dopey          5 - 
Χαζουλης

6- Soneca                    6 - Dormeur              6 - Sleepy        6 - 
Υπναρας

7 - Zangado                 7 - Grincheux           7 - Grumpy      7 - 
Γκρινιαρης


Branca de Neve e os Sete Anões - nomes e cognomes


Ilustração dos Sete Anões feita por Carl Offterdinger; final do século XIX.
imgem retirada de https://pt.wikipedia.org/wiki/Os_Sete_An%C3%B5es

    Depois de termos andado às voltas com o significado de "cognome", a propósito dos conhecidos cognomes dos nossos reis, lembrei-me...
     Afinal, os nomes das personagens que dão o título à história Branca de Neve e os Sete Anões são nomes ou cognomes? Bem... isto é um pouco difícil de decidir. Branca de Neve é o nome pelo qual ficou conhecida a linda princesa. Mas qual o seu nome próprio, quer dizer, qual o nome que lhe deram seus pais? Maria, Clara, Luísa, Rita, Mariana, Carolina, Adriana, Joana, Mafalda, Ana, Susana, Artemis, Stela? Não sabemos. Sabemos, sim, que a sua pele era muito branca, de uma brancura a que os cabelos negros davam ainda mais realce e que, por isso, era conhecida por Branca de Neve. O que acontece aqui? Há uma característica desta menina que está na base do nome que as pessoas usavam para se lhe referirem e isso basta para a nossa história. É melhor até não pensar muito nisso. 
E os sete anões que viviam na floresta e com quem a Branca de Neve teve uma tão bonita amizade?

Lembram-se dos seus nomes?

1- Sabichão

2- Tímido

3- Atchim

4- Feliz

5- Mudo

6- Soneca

7 - Zangado
      
    Está-se mesmo a ver que estes seus nomes são-lhes atribuídos devido às suas características, não vos parece?

    Vamos fazer um jogo de correspondências? Vou descrever aspetos de cada um dos anões e os meninos têm que fazer a correspondência com os nomes.
     Exemplifico com o primeiro, o Sabichão.

A - É um anão que usa óculos, tem cabelos brancos e muita experiência. É muito respeitado pelos outros anões que lhe reconhecem autoridade. Quem é?

Temos, então, a correspondência 
1 - A

Percebido? Vamos então ao jogo. As soluções aparecem no final. Não vale fazer batota!

B - Tem sempre muito soninho. Gosta muito, mesmo muito, de dormir. Farta-se de bocejar!... Quem é?

C - Anda sempre muito alegre e satisfeito. É mesmo a boa disposição em pessoa!!! Quem é?

D - Está sempre constipado este anãozinho! Apanha um bocadito de frio e lá está ele a espirrar. Ou será alergia? Quem é?

E - É o mais novinho de todos. Por isso é o mais infantil e brincalhão! E, claro, nem fala, nem tem barba! Quem é?

F - Tem sempre ar de poucos amigos. Rezingão, resmungão...Que fazer?! É o seu feitio!!! Então quando cruza os braços...UI! É de fugir... Quem é?

G - Este anãozinho é muito envergonhado. Se lhe dirigem palavra fica muito atrapalhado e cora com muita facilidade! Quem é?

Soluções
1-A 
Sabichão 

2 - G
Tímido

3- D
Atchim

4-C
Feliz

5- E
Mudo

6- B
Soneca

7- F
Zangado


Por acaso, até gostaria de saber o que a Branca de Neve e os seus amigos anõezinhos pensariam destes seus nomes... 
       
    Ó Soneca, como te chamas? Gostas de ser o Soneca? E tu, Atchim? Gostas que te chamem assim? Não gostarias mais de ser...eu sei lá, João, Tomás, Afonso, Santiago, Anselmo, Plutarco, Costa, Nuno, Fábio, Carlos, Rui, Gilberto, Spirous, Gil,... 

      Pois eu tenho a dizer que não gostaria nada que me chamassem A indecisa lá porque eu penso e repenso antes de tomar uma decisão e sou mesmo capaz de não a tomar... "Olha, lá está a indecisa!..." Não, não gostaria nada. Sinto que isso seria uma perda relativamente à minha individualidade, que me estariam a reduzir a uma característica que, ainda que verdadeira, é muito redutora. Eu não sou só indecisa, ora essa!!! E tenho um nome que me foi dado pelos meus pais! Livrem-se os meninos de me chamarem outro que não esse!!!! Nada de alcunhas nem cognomes!!!
E os meus queridos netos, o que pensam deste assunto?

E a quem apetecer ver o filme de Walt Disney, aqui está ele, retirado do youtube.


Nota: as imagens dos anões foram retiradas de https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/104258-voce-sabe-o-nome-dos-7-anoes-da-branca-de-neve.htm

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Testamento de D. Afonso II, 3º Rei de Portugal



       Em 1214, D. Afonso II redige testamento. E o que é isso de "testamento", perguntam os meninos, e perguntam bem. O testamento é um documento escrito por alguém - em vida, claro - deixando expressa a sua vontade relativa ao que pretende que seja cumprido após a sua morte. Não é um documento qualquer, pois para ser válido tem que ser reconhecido por entidades oficiais competentes. Assim, o que nele é dito é para ser feito!  Qualquer pessoa pode deixar um testamento, mas se não tiver muitos bens nem nada de relevante para determinar o melhor é deixar-se estar quieto. Não era o caso do nosso rei, claro. Era uma pessoa importante e talvez devido à sua doença receasse morrer novo. Deste modo, teria querido salvaguardar algumas coisas como, por exemplo, a sua sucessão - quem o substituiria após a sua morte -  a distribuição de bens - quem teria direito a receber alguma cosisita e como - , o sítio onde desejaria ser sepultado... Quanto a esta vontade, sabemos que não foi muito fácil de concretizar. D. Afonso II manifestou vontade de ser sepultado no mosteiro de Alcobaça, mas como tinha alguns problemas pendentes com a Igreja só pôde lá ser sepultado anos após a sua morte, que ocorreu em 1223, aos 38 anos, e por intercedência de seu filho, o rei Sancho II.



O mosteiro de Alcobaça foi iniciado em 1178 pelos monges da ordem de Cister com apoio real, o apoio de D. Afonso Henriques. Foi uma boa ideia esta de D. Sancho II, pois este grande mosteiro continua de pé e é um orgulho nacional! É das obras mais importantes da arquitetura gótica europeia! Mesmo tendo sofrido muitas alterações ao longo dos séculos e, atualmente, a sua fachada ser composta por vários estilos e estar muito longe do original gótico. Não foi assim que D. Afonso II o conheceu, não. Mas hoje, quem quer que visite o mosteiro de Alcobaça fica a saber que está lá sepultado, entre muitas outras coisas importantes!

E porque acho muito interessante - descoberta do avô - aqui deixo um excerto do testamento real, retirado de Obras Pioneiras da Cultura Portuguesa (vol. 1, p. 303, sob direção de José Eduardo Franco e Carlos Fiolhais, ed. Círculo de Leitores, Lisboa 2017).
En nome de Deus. Eu rei don Afonso pela gracia de Deus rei de Portugal, seendo sano e salvo, temente o dia de mia morte, a saude de mia alma ea proe de mia de mia molier reina dona Urraca, e de meus filios, e de meus vassalos e de todo meu reino, fiz mia manda per que, depois mia morte, mia molier e meus filios filios e meus vassalos e meu reino e todas aquelas cousas que Deus mi deu en poder sten en paz e en folgancia. Primeiramente mando que meu filio infan[te] don Sancio, que ei da reina dona Urraca, aja meu reino enteiramente e en paz. E se este for morto sen semel, o maior filio que ouver da reina dona Urraca aja o reino entegramente e en paz. E se filio baron nun ouvermos, a maior filia que ouvermos aja-o.

terça-feira, 28 de agosto de 2018

Já passei a roupa a ferro...









Os cognomes dos três primeiros reis de Portugal

Cognome - que palavra tão engraçada - é uma espécie de alcunha... É mais um nome que se acrescenta ao nome original de alguém (quer dizer, não é a um qualquer...) e cujo significado remete normalmente para uma característica dessa pessoa (personalidade, feitos, aspeto físico...). 

Qual terá sido o cognome pelo qual ficaram conhecidos estes reis? Fazemos um jogo? Vamos a isso.

Escolhe a alínea que pensas estar correta. As soluções aparecem no final. Não vale fazer batota...
1.
Retirada de https://www.youtube.com/watch?v=nR9uXqwvFg4
D. Afonso Henriques ficou conhecido como o 
           a) Conquistador
           b) Guloso
           c) Pequenote

2. 


Retirada de http://www.historiadeportugal.info/sancho-i-de-portugal/
       D. Sancho I ficou conhecido como o
          a) Pasteleiro
          b) Cantador
          c) Povoador


    3. 
Imagem retirada de http://www.arqnet.pt/portal/portugal/temashistoria/afonso2.html

          D. Afonso II ficou conhecido como o

          a) Leproso (ou Gafo)
          b) Gordo
          c) Legislador





Soluções

1 - a) Pois está claro! Um homem que de um condado pequenino fez um reino muito maior só pode ter tido o cognome de Conquistador. As outras opções eram mesmo tontas... Se foi guloso ou não, não sabemos, o que significa que, mesmo na hipótese de ter sido, tal não foi considerado relevante por ninguém. Além disso, não havia nessa altura grande doçaria... Pequenote não é cognome que se dê a um rei! Por acaso, até há quem diga que Afonso Henriques não era muito grande - os homens naquele tempo não eram muito grandes - mas chamar Pequenote a quem tanto lutou e tantas batalhas ganhou também não podia ser!

2- b) Pois está claro! Um homem que até arranjou maneira de trazer estrangeiros para povoar certas zonas de Portugal - estamos a referir-nos a Trás -os - Montes e à Beira Interior - só podia ter este cognome! Por acaso, está-me a parecer que estamos a precisar outra vez de um Sancho!!! A alínea a) é uma parvoíce, é melhor nem ligar. A alínea c) é para baralhar. D. Sancho apreciava artes e teria escrito uma cantiga de amigo, mas daí até ser cantador!!!

3- a) Correta! D. Afonso padecia desta enfermidade, embora eu não ache nada simpático que fique conhecido por ela. Não há um cognome melhor?
   b) Correta! Mas, francamente, parece bem que lá por ser um pouco anafado fique conhecido por isso e não pelas coisas boas que fez?? Já não lhe bastava a doença que era muito má (embora não haja doenças boas há umas piores do que outras)  agora também o azucrinam por causa de uns quilinhos a mais??? Acho isso muito cruel. Quero outro cognome. Há mais algum?
  c) Correta! Muito bem, este sim, é um cognome que lhe assenta bem. Sempre acho preferível ter um rei com o cognome de Legislador do que de Gordo ou de Leproso! Pois se foi legislador, e bom legislador, assim fique conhecido. 

    Bem... de qualquer modo, tenho que aceitar que se o J. respondeu a a), a C. a b) e o T. a c) responderam todos bem!!! Que ninguém se zangue.
    Mas... atenção, muita atenção. Queridos netos, mesmo assim, vejam lá se não vos parece que a alínea c) deve ser considerada a melhor. D. Afonso II, cognome o Legislador. Não vos parece que vos dei uma boa razão??? Capazes de argumentar para quem defenda outro cognome? 

E o terceiro rei de Portugal, quem foi?

D. Sancho I, segundo rei de Portugal, faleceu com 56 anos. Bem mais cedo do que o seu pai, D. Afonso Henriques, que faleceu com 76 anos e que  governou 42. Isto foi muito tempo, pois nestas épocas passadas muito poucas pessoas viviam tanto! Foi mesmo dos reinados mais longos de Portugal o de Afonso Henriques! D. Sancho governou cerca de metade do tempo de seu pai, 26 anos (de 1185 a 1211).
    Sancho tinha sucedido a Afonso por ser seu filho. Agora será a vez do filho de Sancho suceder a seu pai. E temos assim... outro Afonso, tal como seu avô. 

Chegou a vez de Afonso II, terceiro rei de Portugal!!!


imagem retirada de: http://ensina.rtp.pt/artigo/nasce-d-afonso-ii-1185-1223/

    Já os meninos estão a perceber que os reis são reis por serem filhos de reis... Isso quer dizer que a Monarquia é hereditária. Com alguns pormenores, visto que só herdava o trono o primeiro filho varão, quer dizer, o primeiro filho do sexo masculino.

   E o que fez este novo rei, Afonso de seu nome, e segundo, para não se confundir com o seu avô? Que fez D. Afonso II no seu reinado de apenas 12 anos, cerca de metade do de seu pai? Era quase impossível não se meter em guerras. Era o que de mais comum havia para um rei. Assim, lá teve de ajudar o sogro, que lutava contra os mouros no reino de Castela, e também reconquistou para Portugal Alcácer do Sal.
     Porém, este rei não parecia muito preocupado com guerras e lutas, embora algumas tivessem vindo ter consigo. Então não é que até as suas três irmãs, Mafalda, Teresa e Sancha, senhoras donas de castelos doados pelo pai, entendiam que deviam ser donas, senhoras e rainhas? Isso é que não podia ser. Num país não pode haver mais do que um reino! 
   A Igreja e o seu mais alto representante, o Papa, na altura, tinham muito, muito poder. Até mandavam nos reis se fosse preciso!! Então Afonso arranjou maneira de meter o Papa ao barulho, que é como quem diz, arranjou modo de ser ele a resolver o problema. Pois lá se encontrou uma boa solução... rainhas, sim, mas pouco.  Rainhas nas suas terras que eram, por sua vez, terras de Portugal. Lá ficaram com algum poder e ao que parece não houve mais complicações. Às vezes, é assim, o que as pessoas querem é mandar. Desde que mandem um pouco já ficam satisfeitas. Ora, este rei que era rei mesmo, tinha que mandar!!! Por isso, pensou numa boa maneira de garantir que quem mandava em Portugal eram os portugueses que lá viviam e o seu rei. Foi assim que teve a ideia de reunir representantes da nobreza, quer dizer, aqueles que habitavam no reino e tinham riqueza, poder e prestígio (e queriam ter cada vez mais e sempre riqueza, poder e prestígio) e do clero, quer dizer, aqueles que habitavam principalmente nos mosteiros, que sabiam ler e pintar bonitas iluminuras e que detinham também riqueza, poder e prestígio (e que queriam cada vez mais e sempre riqueza, poder e prestígio, tanto na terra como nos céus). Portanto, reuniu-se com quem era parecido com ele, e, o povo, que trabalhava, trabalhava, trabalhava sem ter alguma vez riqueza, poder ou prestígio ficou de fora dessas reuniões. Mas naquele tempo as coisas passavam-se assim, e durante muito tempo assim continuaram, o que não quer dizer que os reis, pelo menos alguns, não se preocupassem com o povo. Este até foi um deles.
     Reuniu-se o rei com a nobreza e o clero nas primeiras cortes de Coimbra em 1211! Há quem diga que este facto foi dos mais importantes do seu reinado! Por que será? É que foram decididas leis. Isso mesmo, leis. Leis escritas num papel para ninguém se esquecer e toda a gente cumprir. Até o Rei! Essas leis procuravam que houvesse uma ordem respeitada por todos e que fosse considerada como justa. Por exemplo, determinavam que os que trabalhavam nas terras dos senhores podiam vender uma parte dos produtos que produziam. Parece muito evidente, não é? Não, porque era habitual terem de dar praticamente todas as suas colheitas aos senhores das terras onde trabalhavam. Ficavam só com pouco, muito pouco, tão pouco que eram muito pobres e sempre continuavam  muito pobres. 
     E havia muitas outras leis.  Por exemplo, o clero que gostava muito de ter terras, não podia adquirir assim tantas como queria. D. Afonso II queria um reino onde ele fosse um rei que mandasse (e não os outros nobres ou a igreja) e um reino com leis que fossem respeitadas para que a vida das pessoas, e do reino no geral, pudesse ser mais organizada e não estivesse sempre dependente daquele que fosse mais forte, mais bruto, com mais armas e mais poder. 
     Um bom esforço, Afonso!! (Quase que rima).

    As cortes foram tão importantes que, até no século XX, um artista, Guilherme Duarte Camarinha, criou um extraordinário desenho ilustrando as primeiras cortes de Coimbra, como sempre são referenciadas, para as habilidosas tecedeiras de Portalegre transformarem numa bela tapeçaria. 

Imagem retirada de https://justica.gov.pt/blogue-justica/Blogue-da-Justica/As-primeiras-cortes-em-Portugal
    D. Afonso II, apesar de ter falecido cedo, com apenas 38 anos, ainda teve 5 filhos da mulher com quem casou e, continuando a tradição familiar, mais outros 2 de outras damas.  

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

D. Sancho I, o primeiro rei poeta?


Ninguém sabe bem, mas há estudiosos que defendem que D. Sancho não só se interessou por poesia como também a escreveu. Será dele esta cantiga de amigo, escrita em galaico-português. Pois é, meninos, a língua portuguesa propriamente dita, ainda não existia de forma independente.


Português moderno
Ai eu, coitada, como vivo
em grande cuidado por meu amigo
que tenho longe!
Muito me tarda
o meu amigo na Guarda!
Ai eu, coitada, como vivo
com grande desejo por meu amigo
que tarda e não vejo!
Muito me tarda
o meu amigo na Guarda!
Português antigo
Ay eu, coitada, como uyuo
en gram cuydado por meu amigo
que ey alongado!
muyto me tarda
o meu amigo na Guarda!
Ay eu, coitada, como uyuo
en gram desejo por meu amigo
que tarda e non uejo!
muyto me tarda
o meu amigo na Guarda!
(retirado de https://www.estudioraposa.com/index.php/category/poetas/d-sancho-i/)

Não resisto a deixar aqui a composição de um cantor que muito aprecio, Amancio Prada, que musicou várias canções de amigo, entre elas esta que se atribui ao nosso rei D. Sancho I.




E quem foi o segundo Rei de Portugal?


 retirado de https://pt.wikipedia.org/wiki/Sancho_I_de_Portugal
D. Sancho, pois. Eis aqui a escultura de João Cutileiro, um escultor deste século, que está colocada em frente ao castelo de Torres Novas. E porquê Torres Novas? Ora bem, a fundação deste castelo é muito, muito antiga. Já existia no tempo de D. Afonso Henriques!! D. Sancho, após ataque dos mouros e da sua derrota pelos valentes portugueses, avançou com a sua reconstrução e fortificação. E deu tanta importância à cidade que lhe passou carta de foral. Isso significava uma certa autonomia e poder das populações. É uma coisa sempre boa!


Continuando a nossa história, agora à volta do seu nome...Devia ser Sancho Henriques, não? Parece, mas a verdade é que, como já é filho de Rei, não precisa de qualquer apelido. Isto não acontecia com D. Afonso Henriques que era, por nascimento, um simples conde, filho de conde. 
D. Sancho e basta! DOM...S A N C H O... I !!!! (entoar lentamente com ar de importância).
Dom, porque era assim o tratamento diferenciado. Um rei não é um qualquer, embora o Dom fosse atribuído, no geral, aos nobres. Sancho era o seu nome. Aqui para nós, nome que não teve muito futuro, pois não? Muitos Afonsos existem por aí, mas Sanchos nem por isso... 
Primeiro, está claro, por ser o primeiro Sancho...

E o que fez este D. Sancho, depois das conquistas de seu pai? 
Vamos olhar para um mapa de Portugal em 1185, aquando da morte do rei Afonso Henriques, e um mapa de Portugal de hoje.

Imagens retiradasde http://www.ribatejo.com/hp/base/cgi-bin/ficha_imagem.asp?cod_imagem=160 e de http://2050.pt/google-maps/, respetivamente.


  Isto parece um jogo de... Veja as diferenças!!! Pois, há algumas e bem evidentes... 
- Onde está o Algarve??? 
- Nas mãos dos Mouros!
   Muito bem! Então, foi para lá que se dirigiu o novo rei. Uma das conquistas de D. Sancho foi Silves, uma bela cidade do Algarve, em 1189, e neste ano de 2018 tão fustigada com os fogos! Mas, não mudemos de assunto. D. Sancho conquistou Silves, autointitulou-se pela primeira vez, REI DE PORTUGAL E DOS ALGARVES, mesmo que lhe faltasse a importante cidade de Faro e que Silves tivesse retornado, ainda no seu reinado,  para domínio muçulmano (logo 2 anos depois, em 1191...).

Retirado de https://historiadeportugalparatodos.blogspot.com/2016/07/capitulo-ii-formacao-do-reino-de.html (adapt.)


Dá para ver que as conquistas não foram o seu forte! As conquistas de terras, entenda-se. 
    Porém, havia muito trabalho a fazer! Depois das terras conquistadas por seu pai era preciso tratar da sua organização e povoamento. É assim que este Rei ficou conhecido pelo Povoador. Há quem goste de brincar e diga que começou logo por ele... Então não é que teve cerca de 20 filhos? Onze filhos da mulher com quem casou e outros de outras damas por quem se encantou... 

Por último, um pormenor muito, muito importante, D. Sancho I apreciava as artes e a literatura e patrocinou a ida de estudantes para o estrangeiro, como hoje acontece com o programa Erasmus! Diz-se, até, que escreveu poesia! Isto de um rei se dedicar às artes é sempre de registar, ainda por cima numa altura em que não se dava muita importância a saber ler e escrever (a grande maioria dos nobres era analfabeta!) e em que se valorizava mais as artes da guerra do que as artes da pena!!! Isto sou eu a brincar com a palavra "pena", porque nesta altura, para se escrever, tinha que se usar uma pena. Uma pena a sério! 


Imagem retirada de: http://www.antiguidadeseraridades.com.br/penas-de-escrita-como-eram-antigamente.html
    Mas esta história fica para outra publicação, assim como a dos poemas de D. Sancho.