Em 1214, D. Afonso II redige testamento. E o que é isso de "testamento", perguntam os meninos, e perguntam bem. O testamento é um documento escrito por alguém - em vida, claro - deixando expressa a sua vontade relativa ao que pretende que seja cumprido após a sua morte. Não é um documento qualquer, pois para ser válido tem que ser reconhecido por entidades oficiais competentes. Assim, o que nele é dito é para ser feito! Qualquer pessoa pode deixar um testamento, mas se não tiver muitos bens nem nada de relevante para determinar o melhor é deixar-se estar quieto. Não era o caso do nosso rei, claro. Era uma pessoa importante e talvez devido à sua doença receasse morrer novo. Deste modo, teria querido salvaguardar algumas coisas como, por exemplo, a sua sucessão - quem o substituiria após a sua morte - a distribuição de bens - quem teria direito a receber alguma cosisita e como - , o sítio onde desejaria ser sepultado... Quanto a esta vontade, sabemos que não foi muito fácil de concretizar. D. Afonso II manifestou vontade de ser sepultado no mosteiro de Alcobaça, mas como tinha alguns problemas pendentes com a Igreja só pôde lá ser sepultado anos após a sua morte, que ocorreu em 1223, aos 38 anos, e por intercedência de seu filho, o rei Sancho II.
O mosteiro de Alcobaça foi iniciado em 1178 pelos monges da ordem de Cister com apoio real, o apoio de D. Afonso Henriques. Foi uma boa ideia esta de D. Sancho II, pois este grande mosteiro continua de pé e é um orgulho nacional! É das obras mais importantes da arquitetura gótica europeia! Mesmo tendo sofrido muitas alterações ao longo dos séculos e, atualmente, a sua fachada ser composta por vários estilos e estar muito longe do original gótico. Não foi assim que D. Afonso II o conheceu, não. Mas hoje, quem quer que visite o mosteiro de Alcobaça fica a saber que está lá sepultado, entre muitas outras coisas importantes!
E porque acho muito interessante - descoberta do avô - aqui deixo um excerto do testamento real, retirado de Obras Pioneiras da Cultura Portuguesa (vol. 1, p. 303, sob direção de José Eduardo Franco e Carlos Fiolhais, ed. Círculo de Leitores, Lisboa 2017).
En nome de Deus. Eu rei don Afonso pela gracia de Deus rei de Portugal, seendo sano e salvo, temente o dia de mia morte, a saude de mia alma ea proe de mia de mia molier reina dona Urraca, e de meus filios, e de meus vassalos e de todo meu reino, fiz mia manda per que, depois mia morte, mia molier e meus filios filios e meus vassalos e meu reino e todas aquelas cousas que Deus mi deu en poder sten en paz e en folgancia. Primeiramente mando que meu filio infan[te] don Sancio, que ei da reina dona Urraca, aja meu reino enteiramente e en paz. E se este for morto sen semel, o maior filio que ouver da reina dona Urraca aja o reino entegramente e en paz. E se filio baron nun ouvermos, a maior filia que ouvermos aja-o.
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